quinta-feira, 28 de julho de 2011

SINTOMAS DE CRISES

O Naval construiu sua família, sua carreira, seus amigos, enfim o seu patrimônio com o comércio da sua arte e uma pequena aposentadoria que recebia do Governo.

Formou um círculo de marchands que comparecia nas horas certas e incertas. Alguns eu apresentei, outros soube da existência porque ele me contou. Tenho notícias de um - acho que é Desembargador - que tinha um acordo com ele: de cada dois quadros comprados, o valor de um seria destinado a Caderneta de Poupança para educar os filhos. E assim foi feito. O José Carlos Rego sabe melhor do que eu essa estória.

Mas, todos nós, sabíamos identificar quando o Naval estava em crise financeira. Era fácil: vinha ele expor os quadros que acabara de pintar, pretendendo vender. Começávamos a examinar e perguntávamos: "ô Naval como é que pode, onde já se viu céu verde?" Ele, de pronto, respondia: "ô malandro, o quê que tu queres, eu só tenho tinta verde !"

Nessas ocasiões, negociávamos adiantamentos para comprar tintas, telas e molduras. Recebíamos o pagamento em quadros prontos. Acabava dando certo, pois não era um negócio, era uma saideira !

Nenhum comentário:

Postar um comentário