quinta-feira, 28 de julho de 2011

O MARCHAND BENTO FREIRE


O Bento Freire, brilhante e inteligente, profissional da polêmica, também fazia parte da turma do Pardellas e de todos os botequins boêmios do Rio de Janeiro. Foi nomeado Marchand pelo Naval. Era um título honorífico - ser marchand do Naval. Desconheço quantos quadros possui, mas são muitos. Espera um dia que se valorizem. É também marchand de muitos outros que conheço. Faz parte do Clube dos Homens com Coração de Ouro. De vez em quando, pingava algum na caderneta de poupança do Naval. Seu point principal era o Lidador. Filosofava permanentemente. Comentava que nós estávamos corrompendo o artista Naval, à base de whisky escocês e caviar, acabaríamos com a inspiração dele. Sua tese é de que a prolificidade do artista está na razão direta da sua miséria e na razão inversa do seu bem estar.

Misturava Isaac Newton com Victor Hugo. Mas acabava, comprando mais um, usando a lei da curva depressiva dos preços do Naval.

Em uma certa ocasião, fui pegar o Naval para que ele me acompanhasse num evento cultural. Já não me lembro qual. Morava em outra vila, também no Riachuelo, porém na Rua 24 de maio, cuja responsabilidade locatícia era do seu filho Jupa. Estava fora, deixei um recado dizendo que o Bento Freire veio vê-lo para comprar 20 quadros dele para uma exposição. Imagino que, quando recebeu o recado, ficou excitado - nem dormiu e deve ter preparado seu plano de trabalho para atender o magistral pedido do Bento Freire, afinal um marchand poderoso e sério. O recado foi deixado no sábado. Soube, pelo Bento Freire, que na segunda-feira, ao chegar no escritório às 10h, lá estava o Naval com um papel grande, fazendo contas. Depois dos habituais cumprimentos, o Bento Freire ficou surpreso com a lista de compras que o Naval apresentava: tanto pra tintas, tanto pra telas, molduras e, naturalmente, um certo adiantamento porque o Naval não é de ferro - né malandro!

O Bento Freire exclamou: Naval o que é que eu tenho com isso?

Até ler esse livro, o Bento não sabia que o autor da brincadeira fui eu.

Mas, pro Naval a coisa deu certo. Naquele dia o Bento Freire comprou dois quadros dele e, logo na semana seguinte, comprei os 20 prometidos, autorizando a Marcia, minha secretária e protetora do Naval, a adiantar os recursos necessários para preparar os quadros.

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