quinta-feira, 28 de julho de 2011

BAR MIRAGE

Um dos nossos pontos de encontro era o Bar Mirage. Ficava na Av. Atlântica, esquina da República do Perú, por onde ia e vinha uma multidão de pessoas bonitas, todas personagens do Braguinha que por lá também aportava. Era sempre aos domingos e feriados, a partir do meio-dia, nossa mesa abria os trabalhos com o Gonçalo, nosso garçon favorito, pronto para trazer o primeiro chope e as milhares de saideiras. Nossa mesa era bem frequentada: Lelivaldo de Brito, Dr.Jorge e sua mulata, Norivaldo, Casali, Bento Freire, Prof° Brennand, Roberto Lisboa, Naval, Mulheres, Hugo Nittinger, Da Berta, diversos outros e eu. Em geral os trabalhos eram encerrados lá pelas 16h ou esticados até, estourando, às 18h, quando chegava a turma da noite para nos render.

Nesses encontros as estórias rolavam: sérias, anedotas, futebol, caça e pesca, política, mulheres, fofocas e outras trivialidades. O Naval sempre pontificava de alguma forma. Habitualmente, ele pedia guardanapos de pano ao Gonçalo ou então pratos. Nesse material, fazia seus desenhos e brindava os presentes e seus convidados com figuras de Cristo (a mais comum) ou outras que criava na hora. Tinha a mania de desenhar o rosto das pessoas em suas folhas de desenho, atraindo a atenção do retratado como também de circunstantes. Mas, se por um lado, era bom em figuras e movimentos, deixava muito a desejar com a figura humana. Nunca foi retratista. A retratada ou o retratado ficava compenetrado, alvo do desenho do artista, esperando o resultado. O Naval encerrava com o seu gesto clássico de finalização da obra e, com o seu melhor sorriso, apresentava o que deveria ser o espelho do retratado.

Este, por sua vez, ficava grato, mas geralmente duvidava de que ele fosse a figura do retrato apresentado. Contudo, valia o show. Numa dessas demonstrações artísticas do Naval, ele retratou um convidado da nossa mesa. Tão logo apresentou sua obra-prima, o homenageado ficou mirando a figura por alguns minutos e logo depois começou a chorar.

Ninguém entendeu nada! o Lelivaldo, usando seu espírito de banqueiro baiano, começa a pesquisar e descobre que o convidado identificou no retrato o ectoplasma da sua querida mãe que morrera na Bahia há poucos meses. Daí por diante, entendeu-se que o Naval tinha o dom de retratar o espírito de pessoas, passadas ou futuras, vivendo no seu círculo espiritual. Por isso o retrato necessariamente era diferente da sua fisionomia.

Devia procurar o ectoplasma que estava nele.

Por isso, Gonçalo, traga outra saideira!

Nenhum comentário:

Postar um comentário